O evento Seminário Bioplastics Brazil que aconteceu no dia 26 de abril de 2022, em ambiente virtual, contou com a participação de diversos pesquisadores, empresários e instituições do setor de biopolímeros.
E nós da eeCoo acompanhamos as discussões e apresentações com muita atenção e entusiasmo.
Foram mais de 1700 inscritos para acompanhar 13 apresentações que contemplaram diversos temas, como a definição do que são os bioplásticos, normas técnicas internacionais e nacionais que regem os testes e certificação de biodegradáveis e compostáveis, os principais desafios e oportunidades do setor, bem como diversos modelos de negócios e produtos que têm sido desenvolvidos a partir de biopolímeros.
A primeira palestra foi de Kim Fabri, da ERT (Earth Renewable Technologies), empresa americana do setor de biopolímeros, especializada em PLA. A empresa em questão está montando sua primeira planta de produção de PLA no Brasil, em Curitiba, Paraná.
Kim apontou em sua apresentação que 40% dos plásticos produzidos são de uso único, e é nesse nicho que estão as grandes oportunidades de mercado para os bioplásticos.
As grandes vantagens desses produtos são a possibilidade de se aplicar os conceitos de economia circular, a constante evolução tecnológica que permeia os bioplásticos e sua função complementar no apoio ao gerenciamento de resíduos sólidos.
Em relação aos desafios, Kim citou a necessidade de aumento na escala de produção, destacando, porém, que esse aumento já está ocorrendo, além da consequente redução no custo de produção e preço final dos produtos. Como exemplo citou que o PLA ainda é cerca de 2.8 vezes mais caro que os plásticos convencionais.
Sobre o mercado, ele argumentou que os bioplásticos movimentam cerca de 10 bilhões de dólares anualmente, com estimativas de 270 bilhões de dólares movimentados até 2030.
Os EUA, Europa e países do sudeste asiático são os grandes atores desse mercado, mas o Brasil pode se tornar um importante centro de produção de bioplásticos por seu papel no setor de produção de commodities, em especial cana de açúcar, importante matéria prima para fabricação de biopolímeros.
Por fim, chamou a atenção para a necessidade de se utilizar cada vez mais plantas de uso não alimentício para a produção de bioplásticos.
Já Leonardo Ceratti trouxe uma série de dados sobre a produção e descarte dos plásticos convencionais. De todo o plástico produzido no mundo de 1950 à 2015, apenas 9,5% foram reciclados, enquanto 77,8% foram simplesmente descartados.
O especialista apontou que como o sistema de reciclagem e reuso dos plásticos convencionais ainda é ineficaz, é preciso ter soluções complementares, e por isso os bioplásticos biodegradáveis e compostáveis são tão importantes.
Na parte sobre certificação, Philippe Dewolfs do TUV Bélgica, apresentou em detalhes como ocorre o processo de certificação de embalagens biodegradáveis e compostáveis.
A TUV é a principal instituição certificadora de bioplásticos na Europa, e através de seus laboratórios e pesquisadores é responsável pelo atendimento de uma vasta rede de empresas.
Philippe Dewolfs apresentou, portanto, o sistema de selos que as embalagens recebem, detalhando que, após as pesquisas, as embalagens são classificadas em diferentes tipos e recebem informativos sobre o tipo de descarte, se podem ser descartadas em usinas, no solo, na água, etc.
O palestrante reforçou que embalagens, para serem classificadas como compostáveis, devem ser biodegradáveis, não tóxicas e livres de metais pesados.
O palestrante João Carlos de Godoy, da Associação Brasileira de Biopolímeros Compostáveis – ABICOM, reforçou conceitos e normas relacionadas aos Bioplásticos.
Além disso, Godoy falou sobre a importância de interação entre os atores responsáveis pelas normas e certificações no Brasil, como ABICOM e ABNT, e a necessidade de articulação destas instituições com as internacionais, especialmente a TUV, pois as normas europeias se apresentam mais restritivas que as americanas.
O especialista considera que esta interação é importante para fortalecer o sistema de certificação dos bioplásticos no Brasil, que é alvo muito forte do Greenwashing.
Por fim, apontou que o Brasil tem poucos laboratórios e instituições para pesquisas e certificação dos bioplásticos, e que isso também se apresenta como um desafio que exige melhorias.
Alex Ricardo Duarte, da Brasken, apresentou os bioplásticos feitos de PP de cana-de-açúcar e as vantagens de serem provenientes de fontes renováveis e de serem reciclados, porém, assim como o PP de petróleo, não são biodegradáveis. Ou seja, são passíveis de entrarem no conceito de economia circular após programas de coleta seletiva e reciclagem, capturam carbono após plantio da cana-de-açúcar, porém, se descartados incorretamente não serão degradados com agentes biológicos em curto prazo.
Outras palestras foram vinculadas aos aspectos técnicos, químicos e físicos com apresentação de resultados de testes nos biopolímeros.
Foi de grande valia conhecer as reações de resistência, as características de textura, dentre outros aspectos que são adquiridos conforme as fórmulas variam, em função das combinações para formar os polímeros.
Cada variação representa diferenciação nos produtos finais, o que expõe o cuidado do processo produtivo para geração de soluções para diferentes demandas.
Yuri Tomina, da Braskem, tratou sobre a importância do design de embalagens, inclusive para potencializar a economia circular.
Tomina destacou a importância de embalagens monomateriais que possam ser 100% recicladas.
Ele argumentou que se a reciclagem for aliada a programas de postos de coleta haverá possibilidade de projetos de logística reversa junto à Braskem.
Por isso mesmo, considerando projetos de reutilização, logística reversa e reciclagem, Tomina indicou que há uma tendência em investir em embalagens feitas de um só material para facilitar esse tipo de atuação.
Durante sua fala, Tomina apresentou um novo projeto, uma iniciativa chamada Cazoolo. Trata-se de um laboratório da Braskem para fomentar startups que queiram desenvolver novas embalagens dentro do conceito de economia circular.
Emanuel Martins, da ERT (Earth Renewable Technologies), em sua contribuição trouxe o tema Greenwashing. Em suma, Martins descreveu conceitos do setor produtivo dos Bioplásticos e teceu críticas aos oxi-biodegradáveis, reforçando que bioplásticos compostáveis de fontes renováveis, como o PLA, são materiais priorizados pela ERT.
O representante da ERT alegou que no segundo semestre de 2022 serão lançadas quatro linhas de produtos compostáveis no Brasil. O PLA proveniente de açúcar de cana é atualmente o material utilizado pela ERT, no entanto, a empresa apresenta sinais de buscar utilização de resíduos como bagaço, que não estão ligados propriamente à produção de alimentos, e apresentou ainda que a ERT busca se especializar em produtos descartáveis de uso único.
Adriana Giacomin, da Bioelements, em sua fala apresentou o modelo de negócios da Bioelements que tem origem no Chile e expandiu suas atividades para vários países da América.
A Bioelements produz a resina BioE-8, que é feita de milho e tem a capacidade de se biodegradar em um período de 6 a 20 meses.
A resina BioE-8 apresenta características como não gerar toxicidade no solo, e Giacomin argumentou que pesquisas indicaram que houve aumento da taxa de germinação de sementes com uso de composto feito a partir da biodegradação da BioE-8.
A Bioelements tem seus certificados, inclusive por certificadoras do Brasil (UFRJ e SENAI), e houve apresentação das possibilidades destes produtos serem personalizados.
Ao final foram apresentadas exposições sobre a produção de resinas biodegradáveis no Brasil. Estas apresentações expuseram características dos produtos, possibilidades de usos e adaptações para diferentes demandas.
O Seminário, portanto, conforme pudemos acompanhar trouxe discussões extremamente importantes aos que se preocupam tanto com a oferta de soluções sustentáveis, com a importância da utilização dos biopolímeros e com os desafios da permanência dos polímeros tradicionais de fontes não renováveis.
Nós da eeCoo sabemos das condições de vida em uma sociedade que aprofunda suas características urbanas, da plena produção e do pleno consumo, e que portanto, ainda demanda produtos de uso único provenientes de fontes não renováveis.
No entanto, perceber a responsabilidade e dedicação de pesquisadores, empreendedores, professores e consumidores na busca de soluções mais sustentáveis, apoiando o uso de biopolímeros feitos de recursos renováveis permite pensar em um futuro melhor.
Estamos aqui para aprender com tantos agentes de transformação, em todos os setores e instituições da sociedade, e por isso compartilhamos este material com todos!
Parabenizamos a todos os organizadores, patrocinadores e apresentadores do Seminário Bioplastics Brazil 2022 pela qualidade técnica, acadêmica e engajamento das apresentações e seguimos tentando ampliar os espaços de diálogo, de debate e trocas de aprendizado.
Esperamos que tenham gostado tanto do evento como nós gostamos e que juntos possamos nos sentir desafiados a agir e mudar em busca de um presente e futuro melhor.
O link a seguir permite conferir importantes contribuições para o setor de biopolímeros, clique abaixo: