A menos de 10 anos de uma possível reavaliação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e do que foi alcançado a partir do preconizado na Agenda 2030, os desafios ainda são enormes e os avanços talvez não tenham sido muitos.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável se apresenta como um plano de ação universal composto por: (1) a Declaração, que fornece os princípios e os compromissos da Agenda 2030; (2) os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS – com 17 objetivos e 169 metas de ação global para alcance até 2030.
Para dar conta da Agenda 2030 há exigências de sistematização nacional, regional e global para o controle das atividades, bem como implementação de parcerias e solidariedade na mobilização de recursos, com engajamento entre governos, setor privado, sociedade civil e o Sistema ONU.
Não se trata da primeira agenda internacional para avanços sociais, econômicos e ambientais. A Agenda 2030 considera, além do próprio conteúdo, documentos anteriores como a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração do Milênio e a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento.
As ideias de desenvolvimento e de sustentabilidade se articulam, portanto, principalmente a partir de acadêmicos, consultores e eventos internacionais, especialmente liderados por países da Europa e América do Norte, e a partir das forças destes estados-nações definem eixos de ação para diversos países.
De maneira conceitual, a premissa destes eixos está vinculada ao entendimento de que é preciso considerar as expectativas das gerações vindouras, garantindo direitos e possibilidades de existência à vida e aos seres humanos que terão a tarefa de levar adiante a própria civilização. A partir desta perspectiva, devem ser consideradas as demandas por uma existência digna para as populações que atualmente habitam o planeta.
Embora não seja consenso entre as populações dos países não centrais, ou seja, dos países do sul, estas estruturas e pautas de estímulo aos modos de vida ligados à produção, consumo e conscientização ambiental a partir de um viés europeu e norte-americano se espalham e adentram instituições na maior parte das sociedades do mundo.
Neste sentido, o Brasil como signatário desta agenda tem estimulado como estado-nação suas instituições políticas, sociais e setor privado a considerar as organizações, normas, documentos e ideias.
Destes exercícios se pode perceber, através da transparência de dados de instituições públicas, os investimentos e tentativas de conexões entre projetos de políticas públicas brasileiras e a Agenda 2030 e seus ODS.
No setor privado, há algumas formas de enxergar tentativas de alcançar e envolver a Agenda 2030 e seus ODS no modo de atuar das empresas.
No caso do setor de embalagens há empresas que buscam em seus andamentos internos dar conta de transformações e demandas que apoiem cada objetivo do desenvolvimento sustentável, investindo em melhores práticas, no controle da produção de resíduos, em projetos de economia de energia, de papel, dos usos de energia solar, dentre outros. Mas há também setores que tem na base de sua atuação, no diferencial de seu projeto, uma articulação à produção circular ou na concentração de sua produção em elementos que são considerados em sua raiz como sustentáveis, como produção orgânica de alimentos, produção e fornecimento de alimentação vegana, dentre outros.
No setor de embalagens, o uso dos biopolímeros pode se caracterizar como um investimento sustentável porque na raiz da oferta do produto está uma matriz de origem renovável, ao passo que as embalagens tradicionais, de plásticos convencionais, possuem matriz ainda atrelada à fontes não renováveis.
O setor de embalagens brasileiro se apresenta, em alguns aspectos, como altamente avançado e competitivo internacionalmente, com empresas que atuam no país, exportam seus produtos, investem e desenvolvem design, tecnologia, bem como inovam. E é possível perceber a atenção destes grupos com os novos produtos e soluções sustentáveis, especialmente com os investimentos e esforços para a transformação da matriz de recursos destas cadeias. Então se percebem projetos que vão desde inserção de partes de origem renovável em produtos plásticos e de vidros tradicionais, como produtos inteiramente formulados a partir de fontes renováveis.
Nesta cadeia complexa do setor de embalagens estão contidas diversas atividades. Em um breve exercício se pode apresentar: empresas desenvolvedoras, que ocupam profissionais do design, da engenharia de produtos e outros; empresas produtoras, grandes indústrias do plástico e em fase de nascimento as indústrias dos bioplásticos; empresas distribuidoras, atacadistas e varejistas, que transportam e permitem acesso aos produtos nos diferentes pontos do país, apoiando a criação e geração de novas demandas por produtos mais sustentáveis; por fim, as empresas de distribuição local e regional com seus inúmeros vendedores e comerciantes.
Com todas as contradições da discussão sobre a Agenda 2030, sobre estar atenta ou não às condições e determinações de demandas de povos do sul, cabe ainda sim estar atento às preconizações, até mesmo para formular futuramente documentos, argumentos e ideias que contemplem mais profundamente as possibilidades e necessidades dos países do Sul.
Assim, no caso do setor de embalagens, em cada parte da cadeia os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável podem e devem ser analisados e aplicados em suas múltiplas possibilidades.
No caso do setor de distribuição e varejo, por exemplo, se pode perceber correspondência entre os seguintes objetivos:
- 11 Cidades e Comunidades Sustentáveis
A maior parte da população global passou a se concentrar nas cidades a partir de 2007. O uso de embalagens no cotidiano destes ambientes é influenciado por alguns elementos como a rapidez e fluidez na vida urbana, e mais recentemente pela pandemia de COVID e por outras potenciais pandemias. Assim, garantir proteção de alimentos e produtos, bem como a possibilidade de sanitização e preservação, é fundamental para que as pessoas possam conviver, habitar, trabalhar e se alimentar de forma segura nas áreas urbanas.
Dentro da discussão dos modelos de cidades e comunidades sustentáveis, reduzir a rapidez dos fluxos ainda não é prioridade, em função de uma sociedade de consumo. Mas isto deve ser repensado para garantir a sustentabilidade da vida no planeta. Apoiar atividades de preservação de alimentos, em especial dos mais saudáveis, passa pelo uso adequado de embalagens, preferencialmente daquelas oriundas de fontes renováveis e que possam ser descartadas com redução de impacto ambiental, sem sobrecarregar aterros, garantindo encerramento de ciclo de degradação de produtos, dentre outros fatores.
- 12 Consumo e produção responsáveis.
Este objetivo se apresenta como estímulo às mudanças de padrão de consumo e produção para redução da pegada ecológica sobre o meio ambiente. As empresas distribuidoras de embalagens feitas de biopolímeros estão alinhadas com estes objetivos, pois se apresentam como um agente de conscientização e suporte à substituição dos plásticos descartáveis convencionais, fornecendo produtos oriundos de fontes renováveis e que se degradarão em período de tempo muito inferior aos plásticos derivados do petróleo.
- 14 Vida na Água
É sabido que um dos maiores problemas relacionados à preservação e conservação ambiental se dá em função do acúmulo de plásticos oriundos de fontes não renováveis na água. A ilha de resíduos plásticos, os canudos que asfixiam animais, as sacolas plásticas que são confundidas com águas-vivas, exemplos não faltam nas mídias e salas de aula sobre os problemas ambientais graves decorrentes do uso inadequado e indiscriminado das fontes não renováveis. Assim, as embalagens biodegradáveis e compostáveis, oriundas de fontes renováveis, são degradadas e absorvidas pela natureza em menor tempo, diminuindo o enorme impacto ambiental dos resíduos plásticos na água.
Portanto, embora os desafios sejam enormes, agravados pelas muitas especificidades de setores e países, é possível considerar neste exercício reflexivo que o setor de embalagens pode avançar muito e contribuir para melhorias significativas no alcance das metas de desenvolvimento sustentável.
Mais ainda, o setor pode proporcionar melhorias na qualidade de vida das pessoas, ajudando na redução do impacto dos plásticos convencionais nos aterros e nas águas, além de apoiar transformações positivas em nossas sociedades.
Por Cintia Godoi
Revisão: Maurício Godoi
Fonte imagem: Site Agencia de Meio Ambiente.